imagens, estrelas e caminhos

imagens, estrelas e caminhos

Entre, a casa é sua...

Chegue, venha! Vamos conversar a respeito das coisas que pensamos, queremos, sonhamos... Coisas ligadas à forma como vemos e sentimos a vida e onde ela se configura em nossas coisas, nossos dias, nossa forma de ver e estar presente.

Quem sou eu

Minha foto
Conde, Paraíba, Brazil
Sou Márcia. Arte Educadora, terapeuta e pessoa interessada na dinâmica da vida, suas complexidades e diversidades. Doida por uma conversa que envolva as nossas imagens, as estrelas que vão e vem como sinais em nossos caminhos pela vida ...

A sabedoria é Amarela

A sabedoria é Amarela
Poa

A paz é fuccia

A paz é fuccia
Embaúba

A Calma é azul

A Calma é azul
Floripa

A felicidade é colorida

A felicidade é colorida
Escola IPEI

A transformação é laranja

A transformação é laranja
Pitumirim

O Amor é cor de carne

O Amor é cor de carne

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Detalhes


Tenho compreendido em minha trajetória, seja em casa, no trabalho ou em uma conversa com um desconhecido, que o que define a qualidade das coisas que vivemos e fazemos é a atenção que damos aos detalhes existentes em cada uma delas.
Cada detalhe compreende inúmeras possibilidades.
Cada detalhe tem o segredo de uma célula, com o poder de traduzir o novo existente até nos velhos hábitos.
Cada detalhe é uma chave, uma revelação.

A espiral da vida nos convida a isso constantemente.
Damos volta em volta de nós mesmos e da história com a oportunidade renovada de olhar atentamente e dar sentido ao que julgamos banal.

Colocar nossa energia em movimento e estar a serviço da vida.
Olhar para dentro de nós e organizar a casa.
Permitir que parta do timo o ritmo estimulante do coração.
Olhar, mesmo que por pouco tempo, o que está além nas atividades do dia-a-dia.
Buscar o brilho discreto do implícito e ver...
Acreditar, acreditar.


domingo, 21 de abril de 2013

Fogueira de São João

Madeira,cimento, tijolo, ferro, fio, confusão - Construção!

Estômago,vísceras, nervos, músculos, coração  - Reflexão!

Prazo determinado
Serviço amontoado
Desorganização!

Sentimentos confusos
Parafusos
Desejos realizados
Alterados
Movimentação!

Mão e contramão
Calmaria e explosão
Caminhos, direção

Concentra no que deu certo
Arruma o que está disperso
Pega o que não rolou
Junta o que nao funcionou

Ajeita a Madeira
Prepara a fogueira
Entrega pra São João
Pede a transformação!

Por que não?


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Viver

As vezes acho a vida linda!
Mais linda que a luz do sol cedinho, banhando o mar.
Mas isso não me prende à ela.

As vezes acho a vida triste!
Mais triste que o entardecer de luz confusa e cega.
Mas isso não me afasta dela.

Viver não é o mais importante.
O mais importante é mover-se.

domingo, 11 de novembro de 2012

A HORA


A hora de recomeçar é a que nos ensina a conviver com a dor.

Conviver com a dor não é relevar, mas revelar o que há de nós que já pode emergir.

É colocar-se confiante e disponível para seguir em movimento e conquistar novos espaços onde o que era dor ganha outra dimensão, é visto de outra forma.

Conviver com a dor não é eternizar a dor, submeter-se a ela, mas mudar o seu sentido investigando o real motivo de sua origem. É tirar a dor do altar e colocá-la na roda junto com outros sentimentos pra dançar.

Olhe só! O que o corpo grita diante da dor é como o alarme do carro que nós mesmos instalamos para gritar diante de uma ameaça estranha. Já posso desligar o alarme e esperar a tempestade, a água gelada da chuva, o brilho e o calor do sol causticante - pois isso é estar viva e aprendendo a amar.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O que sou...

Sou algo que se move sem parar
Dentro de um corpo com limites
Sou algo que fura os poros e empurra os pelos
Da pele seca e áspera que fere teus dedos
Sou a força inquieta que vai pra todos os lados
Em busca de toques demorados e cuidados
Sou a dor e o vazio
Sou a fé e a esperança
Sou a água caudalosa do rio
Sou a mão e a contramão
Sou um camaleão que tem em suas costas
Um escorpião

sábado, 20 de outubro de 2012

A Alma da dor

A Alma inflamada de dor
                                       contrasta com o estado inerte dos ossos
Onde há espaço a alma grita
                                        fica inchada querendo sair do corpo
querendo romper o espaço
                                        sobreviver à dor causada pela consciência paralisada.

Tudo se resume a esse estado
mesmo estando errado
Tudo se resume a essa dor
mesmo tendo amor...


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Por que?


Porque...
sou esse corpo branco e nu
girando entre o céu e a terra
em busca de alargar o estreito

Porque...
estou entre o certo e o bom
Entre a cruz e a espada
Cavando as histórias do tempo
Com meu pano preto

Porque...
Estou na beira do lago
Gritando sim!
Porque quero aprender
E dar a vida o melhor de mim

domingo, 9 de setembro de 2012

Caverna


Nos buracos da caverna coloco os pedaços da vida
esqueço de olhar de longe
Chego tão perto disso que me perco
levo tempos ali...

Ali,esqueço que sou mãe e amo os filhos,
esqueço que sou mulher e amo dançar
esqueço que minhas pernas são fortes
e que a minha pele é macia
esqueço que não sou essa caverna nem esse buraco.

Que venham as cores das tintas do mundo
Que venham os ritmos das músicas do mundo..
.
Que a arte, qualquer arte!
venha me acordar com sua força
Desviando meu olhar
Pra que eu dance na ponta dos pés
sorrindo, sorrindo, sorrindo...

E quando eu cair de tanto rodar
Que a terra seja fria e úmida
E que me abrace acolhedora
A ponto d'eu sentir seu coração pulsando
Pra que eu continue dançando mesmo parada...



terça-feira, 14 de agosto de 2012

Pipa

Eu queria ser cantora. Não só para cantar, mas para ouvir cantar!
Eu queria ser uma tocadora de violão para entoar as primeiras melodias e deixar a multidão afinada me levar na cantoria...
Como uma pipa no céu ensolarado, sem precisar ir de taxi pra Estação Lunar.

domingo, 12 de agosto de 2012

Se lança

Tira as asas guardadas nas escápulas e mexe as engrenagens... isso!
Abana as longas penas, sacode o cheiro de guardado.
Precisas estar preparado para o abismo que se aproxima.

Estica os braços até o infinito. Sobe nas pontas dos dedos dos pés até tocar o céu!
Inspira trazendo a força do tempo, acorda o que está esquecido, puxa pela memória que a bagagem é grande...
Costura o corpo e a alma bem juntas com a agulha do poder pessoal e vai. 

Voa!



Deixa...

Abre a carcaça
afasta as costelas 
alonga os braços 
ao teu redor

Deixa entrar as cores
alimenta o timo
as novidades do tempo
recebe o vento
os amores
as dores

O vento trás a cor da água
o cheiro da chuva guardada
as informações negadas
as paixões sem endereço
a vida do lado avesso 

Trás notícias do mundo
do fim ao começo
dos tipos de gente
de todo endereço

Abre o peito pra luz
clara e escura
recebe a paleta
de toda pintura
tocando nas folhas, nas flores, no chão
mudando as linhas da tua mão

Transforma teu ventre
nua mandala, na sala
lá faz a dança com alegria
ao redor da fogueira de cada dia

A dança do fogo, da terra
A dança da água, do céu
Formando uma roda bem grande
um carrossel

Grita por mim
chama meu nome
Dança comigo
me larga no ar

Não quero esquecer 
que estou de visita
que estou de passagem
que tudo é possível
que tanto sou daqui
como sou de lá



quinta-feira, 5 de julho de 2012

A hora

A forma da lua
a luz das estrelas
o cheiro da noite
e a solidão

A taça de vinho
o jeito do ninho
a vela acesa
o prato na mesa

As cores das flores
no jarro de ontem
Me lembram a dança
no salão vazio

A hora é agora
vamos embora?
pega a mala
Não pega o desvio

A estrada é nova
As margens seguras
as flores são vivas
as frutas maduras

A sorte é o livro
escrito por ti
folheia as páginas
e pode seguir

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Parede

Uma parede antiga, bem velha. Aparentemente forte mesmo coberta pelo mofo de antigas infiltrações. Uma parede que sufoca por estar tão próxima e ser tão grande! Está ha tanto tempo ali, que nos confundimos, não sabemos às vezes quem somos nós, quem é a parede. Não conseguimos nos distanciar o suficiente para ter esta clareza e nos identificamos a ponto de, em muitos momentos, de fato, nos transformarmos nela – temos a certeza de que somos a parede. (Não somos!) A parede está cheia de parasitas, fungos, seres que se alimentam da sua inércia, da sua falta de atividade e de luz. São muitos os mundos, os universos criados ali nas entranhas da parede. Os buracos e ranhuras, aparentemente sem significados, vistos de fora não revelam as inúmeras “vidas” que estão ali, acomodadas, no escuro, na umidade, no calor. Buscando eternizar, cada grupo, cada espécie, a ilusão de que não há mudança possível – ignorando o destino fatal de toda e qualquer espécie viva: o movimento, a transformação. Assim é a cultura que nos identifica: uma grande parede. Uma parede que nos condiciona que nos dita os caminhos e as regras, que nos define, define o certo e o errado, os costumes, os valores, os comportamentos, as verdades. Uma parede difícil, cheia de hábitos ultrapassados, que já não nos estimulam e nem nos respondem as questões essenciais. Que já não combinam com a nossa busca conectada com o mundo da diversidade, dos direitos humanos, da inclusão social, dos diferentes, das diferenças... Uma parede que muitas vezes nos paralisa diante de sua enormidade e da nossa ilusão de que somos ela. Sentimos o seu peso e a sua imobilidade, começamos a olhar os buracos e as ranhuras e nos acomodamos com os ciclos ali vividos, certos de que são a única verdade. Assim, perdemos a liberdade genuína de sermos humanos e nem percebemos. Estamos, em alguns aspectos e em diferentes lugares, no momento de furar, por escolha e de forma consciente essa parede e ver o que está além dela, buscar o novo, o desconhecido, seguir os sinais de luz que passam pelas suas frestas, onde se anuncia um vento, uma brisa. Não precisamos ter outras certezas além da importância do movimento, da caminhada para lá dessa parede. Não precisamos ser os super-heróis, os donos da verdade – basta a consciência e a coragem de buscar o novo – não o pronto, o perfeito o finalizado, mas o novo. O momento de furar a parede é tão incômodo, tão difícil e exige tanto de todos que é fácil perdermos o foco em nome de nossa identidade pessoal, de nossa vaidade, do que acreditamos ser o que nos sustenta. Aqueles que estão com os instrumentos na mão, em condições de abrir os caminhos, precisam ter o desejo real de fazê-lo, a visão do espírito de enxergar além, a capacidade de suportar a dor, o cansaço e o peso do próprio instrumento. Aqueles que não estão com os instrumentos na mão ou por terem outra tarefa neste momento ou por estarem em alguns dos buracos embrenhados no lodo, no mofo sem saber o porquê - seja lá em que situação esteja diante da parede - talvez sejam envolvidos em uma grande confusão natural desse momento, causada pela poeira que cega ou embaraça a visão, e pelo barulho dos instrumentos usados para removê-la. Estarão sujeitos ao ataque, dos parasitas que vivem à custa desta parede há anos, e anos, e anos... E saem das ranhuras e buracos querendo atrapalhar, confundir e de forma desesperada, manter tudo como sempre foi. São vermes especialistas na tarefa de adoecer, na tarefa de sugar, pois disso depende a sua própria existência. É preciso lucidez. É preciso a união das diferenças e o despojar das armas para que todos, ou pelo menos muitos, se unam na inevitável derrubada dessa parede. Tendo a prontidão necessária para enfrentar esse momento difícil que promove uma nova ordem e desarruma valores e verdades que se negaram a caminhar com o tempo e a história. É fundamental a consciência de que o barulho e a poeira cultural são etapas da mudança possível. É preciso coragem para fazer isso e determinação para suportar esse momento. Essa é uma tarefa para líderes fortes, que suportem todas as críticas, todas as distorções momentâneas e olhem nos olhos, mesmo que em silêncio, de seus liderados e sigam em frente. Ninguém fará um movimento diante da parede estabelecida da cultura - cheia de vícios - sem provocar um caos momentâneo. Para plantar é preciso cortar a terra, removê-la antes de jogar a semente que ficará parecendo morta por um tempo, até integrar a sua condição de árvore e estourar para além da camada de terra que lhe encobre – rompendo, ela também, com a cultura da semente para se transformar em uma árvore. É o movimento da vida. De minha parte faço das minhas próprias mãos o instrumento necessário para junto com minhas habilidades e contradições, buscar o novo. Não me pergunto se esse novo está pronto, se é perfeito, pois acredito na imperfeição como parte da essência humana. Respondo aos meus botões que o que tem nessa parede não me satisfaz, não responde aos meus anseios e aos anseios que enxergo no mundo. Confio e vou, sabendo que estou fazendo da melhor maneira a minha parte em meio ao barulho e a poeira.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

À Nenego - Criando União

Voltando no tempo, lembro-me do café da manhã de 27 de janeiro de 1996 lá na granja:
Pessoas rodando de um lado pro outro, espelhos pendurados nos diferentes cômodos da casa, crianças de todos os tamanhos correndo agitadas, enfeitadas, canecas de café com leite em meio aos pedaços de tule que sobraram dos enfeites, fitas, panos, uns comendo, outros se penteando, se vestindo...
Era a arrumação pro momento que estava poucas horas à frente: nosso casamento. Eu e Nanego, Ricardo e Rô, casamos juntos naquele dia.
Subimos a ladeira em direção a igrejinha do Conde, onde amigos e familiares nos esperavam para este momento.
A igreja toda enfeitada com flores de papel crepom bem coloridas que pintavam também o arco colocado na porta por onde meu pai passou carregando ao mesmo tempo as duas noivas. Mais forte e feliz que qualquer pai!
A igreja estava entupida de gente e do lado de fora os altofalantes pregados nos postes que costumeiramente levavam a missa ao povo, diziam à cidade o que ali estava acontecendo.
Tudo era uma mistura de brincadeira, teatro e verdade que mobilizou, desde muitos dias antes, as pessoas a participarem e doarem o seu melhor para este momento.
As roupas, o bolo os enfeites (mais de mil flores de papel crepom), a música, formaram - cada um no seu lugar - um cenário de muita beleza, de luz e cor.
Depois, a festa na granja, embaixo do sol e do céu claro, acrescentou àquele lugar mais essa história entre tantas outras de igual significado.
A venda dos pedaços da gravata de um dos noivos (idéia importada de Campinas por Jairinha) nos trouxe um bom apurado e assim, após a festa, partimos para uma boa lua de mel. Fomos, os quatro, pra Pipa encerrar com “chave de ouro” esse momento de abertura de um novo ciclo em nossas vidas.
Dali pra frente, nós quatro, vivemos como tinha que ser - cada qual com sua dupla e cada dupla com suas experiências...
Particularmente eu não imaginava o futuro enquanto vivia esse momento que recordo com igual entusiasmo até hoje - nunca fui muito de me dedicar ao futuro. Meu presente é sempre exigente demais da minha atenção para planejar detalhadamente os caminhos seguintes.
Não imaginava o futuro, mas hoje olhando pra tudo isso vejo que as luzes do sol, as flores de papel colorido e do verde da granja, a energia das pessoas e a alegria daquele momento, foram como um decreto internamente formulado com força capaz de determinar as experiências vividas nos dias passados de lá pra cá.
Mesmo as experiências mais difíceis, como a morte de Rô, foram guardadas em verdade, luz, cor, harmonia e beleza. O pacto de amor que fizemos em meio à alegria e abençoado por todos tem se revelado de tantas formas...
Hoje me mobiliza o fato de sentir-me feliz, construindo união. Atenta a existência e a importância dos momentos vazios, dos momentos de distanciamentos e estranhezas, dos momentos de paixão, preenchimento e graça, como parte de uma escolha que renovo a cada dia e que a cada dia revela um pouco mais de mim mesma. Isso me mobiliza!
Como naquele dia, não sei o futuro. E igualmente me entrego aos apelos do presente. Agora evocando a luz do sol, o colorido do papel que deu forma a tantas flores feitas por mãos de amor, a energia das pessoas queridas e a memória daquele momento contendo a nossa própria alegria, o nosso entusiasmo!
Reafirmo, de um outro lugar interno, o decreto e a intenção verdadeira de ser feliz hoje como tenho sido ao longo desses anos.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Flora

À tua alma, a sabedoria dos tempos
Aos teus pensamentos, o vento dos lugares desejados
Aos teus passos, a terra de todas as paisagens
Ao teu corpo, a forca do desejo e do teu poder pessoal
Ao teu amor, a a felicidade da vida escolhida
À tuas mãos, o teu destino e toda benção do meu coração!

Que o meu amor imenso seja o teu chão,
O teu tapete voador
A tua casa em qualquer lugar.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O Ciclo das cores

O mar e o vento frio/ A mata e o sol ardente/ O verão com gosto de inverno/ acordando o novo na gente/ Os poros abertos/ por onde sopram as mudanças/ a poeira interna que sai do lugar/ vagando por aí como novo/ pra alguém que queira pegar/ Pedaços do que trago comigo/ banhados pela visão do mar/ que lavam o meu espírito/ refazendo partes que me levam a outro lugar/ onde os desafios podem ser azuis/ como a calma/ amarelos/ como a força da vida/ vermelhos como o amor novo/ de novo...

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

a velocidade da pausa...

O corpo para, as atividades mudam com a paisagem, o clima é outro (mas o calor do sol queima por dentro) almoçar de noite, dormir de madrugada, acordar ao meio dia, sons estranhos, novos, velhos, todos longe, todos perto, cheiro de churrasco na roupa, no cabelo, na pele,o presente, o tempo presente, o futuro próximo, o distante, o que será, o que eu quero, o que eu sei, o desconhecido, o novo, o velho, o que vale a pena,e agora?, o desgaste, a pele seca, os cabelos ralos, o coração vibra porque?, o sinal, a visão, a cegueira,a atitude, a inércia, a hora H, passou o tempo, dá tempo? Ainda é tempo? Tempo pra que? qual o caminho? É por aqui, é lógico! É por ali, é lógico!são poucos dias pra aliviar, a água tá fervendo ainda, o coração tá batendo rápido, a respiração tá ofegante, o cansaço é grande, o suor sobe a superfície da pele, preciso de mais tempo pra sentir, preciso de mais tempo para ver, as gavetas estão cheias, abarrotadas, bagunçadas, as peças de roupa não servem, não combinam, o que vou fazer nua pela rua? Sinto frio no calor, o exercício é diário, atenção, muita atenção,tensão,distanciamento, sobrevivência, essência, manutenção, o aqui e agora,o momento, a filha, a saudade, a pura verdade, o amor, o coração...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Mobile

Móbile

Há de se cultivar o tempo todo, uma relação entre tamanho, peso, distância e proximidade entre as peças para que o móbile tenha movimento, graça e beleza. Caso contrário, ele pende pra um lado e deixa de fazer sentido. Acaba a beleza, o movimento. Transforma-se em um amontoado de peças.
Penso que assim é a vida: móbiles enfeitando a existência para fazer brotar o belo, o amor, o equilíbrio
Há de se cultivar o tempo todo, uma relação entre tamanho, peso, distância e proximidade entre os fatos para que a vida tenha movimento, graça e beleza. Caso contrário, ela pende pra um lado e deixa de fazer sentido. Acaba a beleza, o movimento. Transforma-se em um amontoado de fatos.

Árvore da Vida

Apararam minhas raízes
Minhas folhas estão caindo, uma após a outra
Não consigo lê-las
Meus galhos se entrelaçam sem saber aonde ir
Não sou um bonsai
Sou uma jaqueira
Sou uma jaqueira
Sou uma jaqueira

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Primavera

Que pelo meu corpo
Desfilem as flores
Com suas cores vivas
Seus perfumes variados
Que me tragam a leveza
Antes que eu esqueça
De minha própria beleza

Que pelo meu corpo
Passem as raízes
Com sua força
Sua profundidade
Seu poder
Antes que eu esqueça
Da capacidade de me refazer

Que na primavera
Que se inicia
Eu seja o canal
O quintal
Meu próprio Guia

Que as flores sejam
Palavras e gestos
Que as raízes sejam
Todo o resto

A lembrança de que a vida gira
A certeza de que tudo volta
Se eu perdi o rumo agora
A saída do labirinto não demora
Que o muro é um jardim
E que foi feito por mim.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

No Avião...

Nuvens demais
Céu demais
Infinito demais

Amarra os pontos
Puxa o cordão
Me coloca no vazio da tua mão
Pois, o medo é mais que uma pitada de sal.

Memória

Sinto saudades
De um campo que nunca vi
Lugares onde não cresci (?)

A casa, o jardim
O telhado alto,
Um sobressalto:
Alguém que vai chegar de algum lugar...

As pessoas que não conheço
E que não esqueço!

O tempo lento
Rajadas de vento
As horas cheias
Meus pés na areia

Será que é a infância?
Será que é aqui?
Será que é memória
Toda essa história?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Juventude, cadê você?

...E por falar em juventude queria saber para onde foram 5 anos de implantação(?) de uma política voltada para este segmento???
Será que já resolvemos tudo? Que a juventude não tem o que dizer e não temos o que lhes falar?
Será que não precisamos mais investir em um diálogo entre as diferentes gerações na busca de caminhos acessíveis que diminuam os abismos sociais que nos segmentam, nos distanciam?

Ao contrário do que se pensa ou se interpreta sobre o comportamento da juventude; ao contrario do que emerge comumente em uma roda, em diferentes circunstâncias quando o assunto é este, jovens hoje, como em todos os outros momentos da nossa história e todas as outras gerações anteriores, são pessoas com VONTADE de engajamento e participação. Com energia e desejo suficiente para a construção, para a mudança.

Não são os salvadores da pátria - é exigir demais de um grupo social! Como também não são os perigosos, pervertidos, não são "refrescantes" e perfeitos, como os explorados pela mídia. Estas são generalizações cegas e utilizadas muitas vezes com a intenção de não avançar numa discussão mais profunda.

Precisamos dialogar de forma a decidirmos juntos sobre que construção ou quais construções e mudanças são emergentes, importantes, urgentes a um presente que seja rico em sentido, em identidade.

Digo isto, porque em meio aos mergulhos em minhas tarefas atuais encontro a juventude, enquanto sujeito social, cada vez mais distante dos projetos políticos, das construções e interações, das formulações e discussões...

Agora mesmo, a Secretaria Nacional de Juventude - que nasceu junto com o Conselho Nacional de Juventude e com o Programa Nacional de Inclusão de Jovem - Projovem, passa por um esvaziamento em seu corpo subjetivo, em seu corpo de propostas idéias e ações. Digo isto, considerando que desde a criação deste tripé ficou claro que o objetivo deste investimento era a divisão de tarefas, a soma de forças e o enfrentamento dos desafios no sentido de pensar, dialogar e executar uma política nacional de juventude.

Ou era sem sentido em 2004/2005 o "avanço", ou é sem sentido agora esse retrocesso, considerando que não avançamos o suficiente para tirarmos a juventude dos estereótipos e compreendermos o contexto específico deste tempo histórico e dos elementos subjetivos e objetivos que o cerca, considerando a dinâmica do "ser jovem hoje". Cadê a política? Cadê a intenção de construir uma política efetiva e eficaz?

Registro desta forma tímida minha indignação ao ver no território nacional um processo tão bem iniciado diluído em ações de "esporte e lazer" (por mais que considere importante estas ações no contexto do universo juvenil).
Registro minha tristeza ao ver o Projovem ser entregue ao MEC sem a escuta dos atores que dele participaram em todo Brasil nestes últimos 5 anos, que dele têm conhecimento e podem conduzi-lo melhor neste novo contexto.

Estas medidas podem estar revelando um descaso por parte do governo federal que tanto investiu anteriormente nesta ação e a falta de debate sobre isto, na medida em que vai acontecendo, apresenta uma máscara por meio da qual os antes interessados na política de juventude escondiam a sua indiferença.

Só resta torcer para aqueles que, de fato, se comprometeram com a pedagogia da construção de espaços de PARTICIPAÇÃO para a juventude, não deixem de apontar este momento e instigar o desejo de estarem presentes de jovem para jovem.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Estou aqui...

Hoje corri tanto, tanto...
Puxei o freio de mão agora!
(Quero Nanego, quero João, quero Flora...)

Não vou escorregar na chuva que sai de dentro de mim.
Vou olhar pra cá, para as paredes, me concentrar!

Enchi as paredes desse quarto onde estou com fotos de coisas que vivi. Pessoas que amo (falta tanta gente aqui...). Momentos da infância - minha e a de meus filhos. Momentos da vida.
Enchi também de imagens que representam coisas que nunca vi.
Lugares que nunca fui.
Peças de teatro e shows que não assisti...
Trouxe estes cartazes de muitos lugares, há muitos anos e resolvi colá-los na parede do quartinho de serviço desse apartamento, pensando em ter um lugar só meu, uma caverna.
Trouxe porque achei bonitas as imagens que contam histórias de um momento, de um tempo, de um lugar que não é o meu.

É impressionante como isso – olhar estas imagens - de alguma forma alimenta a minha alma, me coloca em contato com tudo que é essencial.
Vou longe. E ao ir longe me percebo aqui.

Preciso ficar forte, preciso ser forte.
São tantos os desafios, cada vez mais intensos e sem intervalo entre um e outro!
Não quero a sensação e a percepção de que outras possibilidades de vida estão correndo em paralelo, lado a lado. Passando do lado do meu corpo.Eu passando por mim.

Quero estancar a correnteza.
Agradecer a “insustentável leveza do ser” e me entregar agora e sempre ao que sou, ao que tenho, ao que faço.

EU

Eu sou a faísca que risca o tempo
A fagulha que voa no vento
O impulso que sai de dentro

Eu sou o rabo do cometa no céu
O azul da caneta borrando o papel

O som da corneta bem alto
A marca de freio nos asfalto

O barulho da rua
Uma mulher nua

Sou esse pedaço
O que eu faço?

domingo, 24 de abril de 2011

Casa Lavada e abençoada

Era uma idéia.
Um desejo.
Um sonho esquentado no peito
Carregado de história
Mudança e transformação.

É a força do silêncio
O poder da criação
Desafiando o tempo
Sobrevivendo ao musgo
Enfrentando a solidão.

É a força do guerreiro
O poder do formigueiro
Trabalhando o tempo inteiro
A luz
A contramão...

Foi sonho
Foi saco de barro
Agora é pedra
É sagrado
É construção.

É o teu pedaço de chão
É casa
É benção...

É a tua vida em tuas mãos.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quem está na cabeça da mesa paga a conta

Sinto-me indignada e sofrida pelo que aconteceu na escola do Rio de Janeiro como todo mundo.
Estava no médio sertão, em um restaurante na cidade de Patos após uma reunião de trabalho e fui arrastada para uma profunda dor ao ver a notícia e asssistir as cenas na televisão.
Mas, talvez por força do trabalho que desenvolvi até pouco tempo, que me levou a ter um olhar para o que acontece por trás dos letreiros e do lugar-comum, não vejo apenas as crianças e jovens atingidas, seus familiares, professores e amigos, vejo a dor do jovem que todos agora conhecem e chamam de monstro.
Foi monstruosa a atitude. Foi de uma crueldade terrível a cena e o desenvolvimento dela será igualmente cruel e doloroso no dia-a-dia das pessoas que, de uma maneira ou de outra, viveram esse horror, enquanto nós estaremos assistindo pela televisão novas notícias, novas tragédias e batisando novos monstros.
Mas como surgem esses jovens monstros?
Foram crianças, tiveram ou têm uma mãe, uma história, uma vida...
Onde se perderam? De que forma? Quais os motivos e causa de tamanha violência?
Essas são algumas poucas questões fundamentais para a reflexão e indagação da sociedade e o poder público.
Ninguém no jornal, no twitter, na tv, fez um outro questionamento importante: Onde esse jovem adquiriu as armas e as balas que feriram e mataram as pessoas?
Esta aquisição faz parte de uma doença e de uma distorção que ele não carrega isoladamente em seu corpo e sua mente ferida.
Esta doença e distorção pertence ao corpo e a mente social de um todo,estão em partes nossas para as quais não queremos olhar. Tanto que nem nos causa estranheza um jovem, pobre, perdido na vida, vitima de bulling, acuado ter em suas mãos armas e munição capazes de tão grande e violento estrago.
É mais fácil parar no óbvio: UM MONSTRO MATOU 13 CRIANÇAS E SE SUICIDOU.
Apontar que o jovem era portador de HIV, como que querendo direcionar um motivo. Um motivo que ainda por cima revela outros preconceitos e rótulos, aumentando a conta do indivíduo, numa mesa onde estamos sentados todos nós.
Ontem este jovem esteve na cabeça da mesa pra pagar a conta, hoje,amanhã e depois de amanhã, certamente, outros jovens estarão.
Estão servindo armas, drogas, e todo tipo de violência nesses banquetes.
Precisamos ao mesmo tempo olhar para o prato principal mas olhar também para cada tempero, condimento, ingrediente que dá o gosto.
O banquete final pode estar distante de nós, mas qual dos ingredientes estão em nossas mãos?
Poder público e sociedade devem gastar todo o tempo e indignação para procurar caminhos, localizar os ingredientes que estão nas mãos de cada um e tirar o gosto dessa farra!
Estes jovens monstros também são nossos assim como são nossos suas vítimas em potencial.
Esta conta precisa ser dividida. As atitudes precisam vir a tona na mesma rapidez da nossa indignação e capacidade de julgar e rotular.
O que vamos fazer agora?

sábado, 26 de março de 2011

Quem está na berlinda?

Enquanto isso na sala de justiça...
Uma ligação de alguém trazendo um fato que acabou de ocorrer em uma escola onde, numa daquelas ações estimuladas pela Rede Globo, os "amigos da escola" estavam a pleno vapor. A ação bem intencionada foi interrompida por uma discussão idiota entre um aluno, morador da comunidade e o vigilante da escola.
Não sei bem como nem por quê o aluno sai da escola e volta com amigos armados para, segundo dizem, matar o vigilante. A confusão começou, a polícia foi chamada, o tiroteio instala o medo e o terror em uma dia que era para ser de festa.

VIOLÊNCIA NA ESCOLA - certamente será essa a manchete do fato ocorrido.Quem foi o culpado o vigilante ou o aluno? O professor? O pai? o poder público?

É grave, é sério, mas enquanto não pararmos para uma reflexão conjunta capaz de dar voz a todos os atores envolvidos nos diferentes espaços de violência, sem nos apressarmos a definir a vítima e o algoz, não estaremos fazendo nada - a não ser alimentando mais ódio - pois, a vítima de um caso é o algoz de outro - fato explicado por qualquer corrente da psicologia seja cara ou barata.
O ser humano não suporta a condição de vítima o tempo todo e em todo lugar, por mais que a deseje. Ela é humilhante e provoca uma reação. A reação é justamente ser o algoz de uma outra vítima em potencial - é simples!

Nos casos de violência que vemos ou vivemos, estamos sempre nos apressando em encontrar um culpado e uma vítima como se a violência estivesse resumida em fatos isolados e pessoas isoladas. Pura burrice se paramos aí, neste ponto! É preciso ação é preciso punição, mas é preciso reflexão e autoresponsabilidade!

Hoje, este fato violento aconteceu na escola e certamente vai ser conhecido por todos. Mas ao mesmo tempo, na mesma hora talvez, algo violento aconteceu em muitas casas, igrejas, ruas, bares, boates,supermercados... Alguns destes serão conhecidos, revelados, outros serão apenas combustível para novas violências formadas em novos espaços.

A pergunta me foi feita por quem me trouxe a notícia:
Professora, será que em algumas escolas não seria importante ter um vigilante armado?
Não! Absolutamente não!
E a minha vontade de gritar esta resposta para todos que pensam que o obvio resolve tudo é muito grande. E embora saiba que esse blog é um espaço de troca que tenho com meia dúzia de amigos e amigas, o incômodo e o impulso me trouxe para cá.

Dentro da escola a arma deve ser, mais do que em qualquer outro lugar o debate verdadeiro e incansável que nos coloque como sujeito.
A revelação dos diferentes tipos e formas de violência vivida e cometida por nós. Ouvir e falar sobre como violentamos os outros nos trará uma visão mais clara da rede que sustenta a própria violência e a forma como isso se dá, consequentemente revelará o segredo do combate.
A física quântica diz que a medida que olhamos um fato(quantun) ele já se transforma, já deixa de ser o que é/foi. As polaridades se invertem.

Precisamos olhar a violência não só como plateia dos programas de TV ou leitores das páginas de jornal. Um dia ela pode, neste mesmo formato,o formato que a identificamos e que tanto tememos, bater a nossa porta.
Precisamos mergulhar mais profundamente nos diferentes tipos e formas de violência nos colocando como partes, mas ao mesmo tempo, sem nos identificarmos com eles, para assim sermos capazes de pensar nas possíveis soluções ou caminhos.

Quando falo em tipos e formas de violência procuro ir além daquelas batizadas: violência contra mulher, violência doméstica, violência no trânsito, violência urbana, etc.
São estas, violências concretas, sérias que precisam ser concientes para que sejam enfrentadas e transformadas. Mas falo também das que não têm nome porque se diluem nas ações ditas "normais" do cotidiano e que são permitidas de alguma forma para e por cada um de nós.
Estas violências veladas são tão veladas que não as percebemos em nós mesmos. Se não nos percebemos violentos, como nos defendermos da violência que produzimos?
As violências veladas têm a força quase indestrutível de milhares e milhares de cupins roendo uma madeira fraca, pronta e entregue ao destino de ser ruída. São iguais ao ferrugem presente por uma eternidade em uma barrade ferro ou um prego sem que ninguém perceba. Não vemos a sua capacidade de destruição, apenas um dia tudo se revela da pior maneira possível.
As violências expostas são a chave! São a revelação da ferida.

Quando criança, minha mãe tirava a casca das feridas e colocava água oxigenada. Abrir a ferida, jogar agua e oxigênio: grande sabedoria!
Hoje, a ferida aparece e colocamos base cor da pele para que ninguém veja, "depois curamos, quando tivermos tempo curamos..."
A vida não tem segredos. Pelo menos não é pra ter. Curar qualquer tipo de ferida é isso: tirar a casca, jogar agua oxigenada. E pagar o preço para deixar o movimento acontecer em sua diversidade e com as suas diferenças superficiais ou profundas. Deixando marcas ou não, durando mais dias ou menos dias, pois cada ferida é única.

A minha proposta é: Vamos conversar! Colocar palavras entre nós e esclarecer os nós que criamos nas relações pessoais e sociais (pois são as mesmas, são iguais).
O poder público deve ser aquele que irá promover essa conversa, esse diálogo sem demagogia. Oferecendo as escolas e os demais espaços públicos para o público, para o bem público, para servir a necessiadade imediata da vida do público - estou entendendo por público todos nós.
Juntos, sociedade e poder público devemos correr o risco e pagar o preço dessa arrumação.
Não temos mais tempo para blá-blá-blá. Já evoluímos bastante: levantamos a coluna, aprendemos a andar nas duas pernas, esticar os braços em direção ao céu ou ao inferno, usar a pinça mágica do indicador + o polegar, aprendemos a falar, escapamos da torre de babel, aprendemos a voar (mesmo que tenha sido dentro de um avião ou amarrados a uma asa delta), dominamos diversas linguagens, oração, meditação, informática, cibernética, robótica... daqui há pouco tornaremos realidade a transmissão dos nossos próprios corpos para onde quisermos. Agora precisamos de ações inovadoras, precisas que representem os seres humanos que somos: integrados com os avanços que fomos capazes de promover em tantas áreas. Estamos prontos para voltarmos ao começo. Como Picasso depois de velho voltou a pintar como criança. Estamos prontos para acessarmos o tempo de uma parte da nossa evolução: encararmos o diálogo. A dialética como forma de achar o caminho do meio, o terceiro incluído onde imaginamos existir apenas dois: o preto e o branco, ao certo e o errado, a vítima e o algoz.
Somos nós que estamos na berlinda e não apenas o outro.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Pra que mais?

Estou em meio a uma grande colcha de retalhos. Algo imenso que em cada pedaço de pano oferece um desafio novo, algo pra se contemplar entender e rapidamente imprimir uma resposta, uma ação já!

Na verdade, tenho aprendido que não.
Não precisa de uma resposta aqui agora como parece - essa impressão na verdade, faz parte da forma distorcida de ser da colcha de retalhos a qual me refiro.
Não tem que responder nada assim não.
Tudo volta em um momento seguinte como se fosse algo involuntário, um nervo tremendo no canto do olho, um movimento reflexo, algo que vai e vem lhe provando que muitas destas coisas parecem estar ali não por sabedoria, mas por descarga, cansaço, abandono, sei lá... Sem a menor presença da inteligência. De maneira que quando eu menos espero o retalho que guarda aquele tema se repete, aquela mesma onda volta a sua frente trazendo a mesma pergunta, provocando a mesma resposta.

Creio que preciso de um afastamento mínimo. Algo que me tire o impulso de socorrer, de agir na hora, de dar uma resposta na hora como se tudo se resolvesse ali ou tudo se perdesse ali. Preciso da distância que limpa a vista o suficiente para ter uma visão mais nítida e só dar a resposta uma, duas, três ondas depois. Isso basta!

A dificuldade, a aparente zona, a desordem, a diferença de cada retalho, a aparente falta de combinação das cores e formas, pontos e linhas, na verdade não estão pedindo socorro, mas dizendo: venha, pinta e borda! Aqui não tem nada faltando, tudo sobra em abundância esperando a criação.

"Eu só peço a Deus um pouco de malandragem, pois sou criança e não conheço a verdade". Peço leveza e muita sabedoria para ver, ler, ouvir, as mensagens contidas nos textos e imagens do dia-a-dia.
O desafio das diferentes gerações é reconhecer suas heranças e melhorá-las. Criar com elas, a partir delas.
A confusão é a oportunidade de criar. Sem ela estaria condenada a seguir em frente, a continuar algo.
Quero dar voltas. Quero subir e descer. Trilhar caminhos tortuosos e descobrir saídas, criar soluções. Deus me defenda da falta de oportunidade que as coisas prontas trazem!

Sigo cantando com meu Anjo da Guarda, Arcanjo Miguel e São Jorge Guerreiro - duas asas imensas, uma espada de luz violeta, uma lança e um dragão pra afastar os inimigos que por ventura existam. Pra que mais?

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Que me Forre Por Dentro...

Desde que comecei o trabalho na secretaria de educação que não tive mais tempo para nada!
Não vi minha filha ir embora para fazer o mestrado em Santa Catarina, não vi meu apartamento aos poucos acomodar meus móveis, minhas roupas, minhas coisas, substituir minha casa... Tanto que pra mim ele ainda não é meu lar ainda.
Não deu tempo de sentir, de fazer do meu jeito, de trazer minha alma – esta, por sinal, está tão confusa, tão exigida, tão esticada! Como estão exigidos e esticados Nanego e João, cada um de uma forma, cada um de um jeito dando conta dos meus pedaços ou das minhas ausências enquanto estou no meio do caminho de algum lugar nessa estrada de paisagens desconhecidas, que me lembram algo já vivido de forma imprecisa e vaga em muitos momentos.
Não sei como João está indo na escola. Não sei como está Flora tão longe de nós.
Não vou à granja faz tempo!
Estou estranha dentro de mim.
Hoje, sinto-me especialmente assim – querendo sair de mim mesma por algum lugar por algum buraco. Quero descansar.
Os desafios enormes me fazem estar atenta às 24 horas do dia numa selva de estranhezas.
No horizonte à vista, a possibilidade de fazer o certo, o óbvio, o simples necessário e suficiente para SER. Parece fácil, é fácil! Mas, como se fosse um caleidoscópio essa imagem flutua, mudando de forma a cada dia, ficando próxima, distante, se desmanchando e se formando novamente.
Como uma formiga escapando da água que desce pelo ralo eu vou, fortalecendo as pernas, me agarrando na minha capacidade de me doar, de me entregar. Como um homem –aranha, jogo do meu próprio pulso a minha teia que me segura nas paredes lisas por onde estou pisando. Um dia após o outro eu vou. Eu sigo.
Coloco-me a disposição do universo, da criação e digo todo dia para mim mesma: Tudo que tenho e sou quero dar A VIDA!
Mas, neste momento eu só quero que me forre por dentro com um material forte, que me deixe inteira e firme, para fazer e viver o que a vida me oferece.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Lembranças Urobóricas

Peitos de mãe
Boca de filha
Dois corações
Uma só armadilha

Leite farto
Forte abraço
Olho no olho
Momentos do parto

É cobra comendo cobra
É gente comendo gente
Lembranças de passado
Sentimentos do presente

Rabo na boca da serpente
Forma um laço em volta da gente
Pra sempre...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Era casa, era jardim...

casa, apartamento
jardim verde
pedra e cimento

cajueiro em flor
suco no chão
escada, elevador

o sim e o não...

os móveis cabem?
cabem não.
o medo vai?
assombração?

E a liberdade?
cabe aqui não?

A liberdade. Pode levar!
A alegria, pode levar!
Deixa um pouquinho pro morador
Pede um pouquinho pra Nosso Senhor

O quem vem de frente
entra no peito
cabe no amor
cabe na gente
cabe na dor

Aperta daqui
afrouxa de lá
muita coisa vai ter que ficar
Bota na caixa
Deixa esfriar

mistura jardim com corrimão
mistura ação com emoção
Mistura praça com mar
mistura tudo e ver o que dá.

Em que caixa eu vou?

me dobra
me ajusta
me alinha

Esse apartamento é meu
esse mar é meu
esse cimento é meu
essa vida é minha!

Era casa, era jardim
Era cajú, era mandala
Ágora é a força da roda
e a paixão pela vida que fala

Tudo vai dar certo assim
o amor e a fé eu levo dentro de mim

sábado, 30 de outubro de 2010

Indignação

Acho um absurdo os fatos que estamos presenciando nestas eleições!

Precisamos construir uma sociedade mais madura, mais integrada e habituada à ética, ao respeito e aos valores humanos. Desta forma, não veremos mais o cinismo de pessoas como Maranhão e sua Conexão 15 escondendo ações carregadas de preconceitos, intolerância religiosa, violências, discriminações! Fato que deveria estar nas mãos de polícia e da justiça a fim de resguardar o povo de tamanho abuso!

Tampouco, mesmo insuflados por lideranças doentes e distorcidas, não veremos as pessoas estampando nos vidros dos seus carros frases como: "Cristão não vota em ateu, cristão vota em Zé". Nos envergonharemos disso.

Ontem presenciei uma mulher na rua, carregando uma galinha preta numa mão, uma foto de Ricardo Coutinho na outra, gritando: "É disso que ele gosta!"
Essa imagem me encheu de indignação!
É mesma mensagem contida no adesivo:
A mensagem que quer nos dizer que somos répteis, cobras que por instinto animal, comem a sua própria cria na hora da fome.
Mas essa fome é de que?

A carga de violência estimulada por panfletos anônimos agora começa a ganhar assinaturas, gestos, corpos, caras, pois o motorista do carro está ali no seu volante gritando com o adesivo o seu preconceito e a sua visão agressiva e distorcida desse momento de cidadania e democracia. Essa mulher espalha a raiva contida - sabe-se lá do que, de quem ou pra que - jogando sua intolerância e agressividade na cara das pessoas que passam na rua, como uma louca!
Mas essa loucura é de que?

Será que não estamos atentos ao fato de que essa Conexão 15 e seus mentores intelectuais, com suas atitudes veladas (nem tanto!) estão incitando a violência na população? Levando as pessoas a tirarem das suas cavernas os seus monstros preconceituosos e doentes?

Será que não estamos atentos ao que isso representa? O uso, abuso das pessoas? O desprezo por tudo que já avançamos enquanto humanidade em nossos processos civilizatórios?

Sou adepta dos momentos terapêuticos nos quais encaramos e reconhecemos os nossos monstros internos, mas isso estimulado de forma irresponsável, gananciosa, levando o coletivo a desordem e a violência é absurdo demais!

Precisamos cuidar de nossa loucura e saciar a nossa fome e não de alguém ou grupos que as aticem dessa forma cruel.

Felizmente, se de um lado somos répteis, do outro somos mamíferos, cuidadores, preocupados com a manutenção da vida e com o outro. Somos, finalmente humanos, seres em (trans)formação, capazes de refletir, de avaliar, de fazer escolhas. Capazes de valorizar os passos dados e da indignação pelos retrocessos que podem gerar momentos impensados de violência.

Felizmente nossos aspectos humanos superam os nossos reptilianos e somos capazes de buscarmos a ética e a maturidade. Certamente faremos a escolha pelo respeito ao invés do preconceito, pela inclusão ao invés da exclusão, pelo abraço as diferenças no lugar da intolerância, pela paz ao invés da violência.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Continuação 9

“Será que nossa capacidade de controlar nosso destino, como pessoas em sociedade, é tão insatisfatória assim, simplesmente por sentirmos tanta dificuldade em pensar no que há por trás das máscaras com que nos sufocamos, nascidas do desejo e do medo, de nos vermos quem somos?”. Norbert Elias (1994: 69)
É importante que ocorra uma limpeza nas comunicações internas e externas que eleve o nível da nossa consciência como ponto de partida para qualquer mudança. É importante o envolvimento a partir do compromisso e do amor por nós e pelo que somos capazes de fazer em prol dessa transformação.
Roger Garaudy (1973:52), diz que “A reconquista das dimensões perdidas está em erotizar o nosso relacionamento com o mundo e dar um estilo ao movimento do nosso corpo e a nossa vida, despertando em nós o desejo de exprimir o mundo”. Erotizar quer dizer seduzir e ser seduzido, colocar todo potencial, toda atenção, toda intenção, estar presente em cada poro e ir exercer o poder de atrair e ser atraído. No livro Criando a União, de Eva Pierrakos e Judith Saly “o Guia” diz que a força erótica faz com que a pessoa fique num plano acima da separação. Podemos trazer essa imagem para qualquer esfera de nossa vida, inclusive, e principalmente, para desempenhar a nossa tarefa, seja ela qual for. O educador parece estar, em relação a ele próprio e a sua prática, como as “dimensões perdidas” citadas por Garaudy, carente de (auto) relacionar-se, de (auto) apaixonar-se, e assim desempenhar bem os seus diversos papéis.
Percebemos isso quando vemos a imagem do vendedor ambulante nas ruas dos centros da cidade, onde todos param para ver e ouvir a sua mensagem. Assim como acontece com o artista mambembe que sem cadeiras ou cenários envolve a todos em seu espetáculo de rua. Eles cumprem o seu papel, a sua tarefa, alcançam os seus objetivos de serem vistos, ouvidos, integrados àqueles a sua volta. Usam de atributos reais e estão presentes em cada célula. Por isso crescem às nossas vistas, tornam-se gigantes, tornam-se parte de nós.
Trazem-nos a imagem de um movimento que não se completa, de um desejo prestes a se realizar, de algo sempre em construção, em transformação, vivo, inacabado. Estimulando a nossa atenção, a nossa curiosidade, a nossa presença.
E o que é o vendedor e o artista, senão alguém que consegue, pelo menos naquele momento, estar presente, centrado, atento ao que está fazendo? É alguém que cria e sustenta um campo de energia em torno de si capaz de unificar, integrar, por ressonância, as pessoas a sua volta.
E o que é educar se não o ato de estar inteiro, presente, ensinando e aprendendo, pensando, sentindo e agindo, compartilhando?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Paraíba Alfabetizada

Tenho andado por cidades do nosso litoral, zona da mata e agreste, realizando um trabalho no qual estou comprometida.
Pego meu carro, a princípio com uma certa preguiça, com um pouco de receio de sair por essas estradas sozinha. Mas é só começar a viagem, sair da BR e entrar pelas estradas estaduais que meu espírito limpo, original, toma conta de mim.
Entro em contato com o vazio, a solidão, as diferentes formas de vida e possibilidades das pessoas moradoras dessas pequenas cidades, das zonas rurais... e parece que sou cada uma delas. Sinto-me viva! Sinto-me ampla, compatível com o horizonte a minha frente.
Quando entro em contato com o trabalho então! Vejo a grandeza dessas pessoas, desafiadoras do destino, da desatenção do poder público, da falta de acesso as mídias que mandam no ritmo do trabalho intersetorial.
Não param, produzem, realizam da maneira que podem. Colocam em prática, mesmo sem saber, o velho ditado: “em terra de cego quem tem olho é rei”.
O contraste entre a beleza dos lugares e a dificuldade do dia-a-dia para por em prática um programa de educação que tenta resgatar jovens e adultos que perderam todas as chances no tempo “certo” de aprender, parece dizer da dificuldade de ser plenamente feliz. Parece testar a nossa humanidade.

Existência

Vida sentida
percebida
Saída dos poros
Ouvida por outros ouvidos
vista por outros olhos

Vida do lado
Paralela
Vida fora da tela


Todos os passados
Todos os futuros
Todo o tempo em um só presente
Várias possibilidades
Tudo diferente


Sou eu aqui
Sou eu ali
Sou eu em todo lugar
O que está para vir?
O que de mim vai ficar?

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Sobre Juventude

Tenho me sentido instigada a falar um pouco sobre a visão que os partidos (repartidos!) políticos têm da juventude. De um lado a juventude dos partidos da direita, do outro os partidos da esquerda e no meio de todos a falta de um olhar preciso sobre e para a juventude.

Essa juventude que está aí pleiteando os cargos eletivos representam o que há de mais antigo na política - apesar da pouca idade e das caras de bebê, não têm nenhuma relação com o "ser jovem" ou com a identidade política das diferentes juventudes que tem emergido em nosso país e em todo o mundo de uns anos pra cá.

Assim como também não vejo de forma positiva ou significativa o olhar revelado a respeito da juventude dos partidos políticos ditos de esquerda - vejo, antes disso, um apego a uma imagem juvenil de "luta" marcada nos anos 60/70 - Um desejo compulsivo do retorno daquela juventude revolucionária, ou mesmo dos jovens "caras pintadas" que assistimos mais recentemente, com os mesmos gestos e as mesmas caras... Como se nada tivesse mudado na dinâmica da vida e nas formas individuais e sociais de organização.

Jovens preparados neste ou naquele partido com cara de direita ou cara de esquerda aprendendo a repetir velhas formas de fazer política - cada forma com sua cara! E que no futuro bem próximo estarão usando expressões como "é assim que se faz política", repetindo um jargão sobre o qual não refletiram.

Penso que enquanto não abrirmos os olhos e dermos espaço para vermos e ouvirmos o que a juventude HOJE tem nos mostrado, ficaremos o tempo todo vendo os filhinhos e netinhos da direita, com o dinheiro da família, dando carona aos velhos políticos (velhos no sentido de ultrapassados) e carregando modelos de lideranças cheios de vícios e lições domésticas, por um lado, e/ou, por outro, representações de esquerda de uma única juventude: aquela que se espelha na juventude "revolucionária" que não representa, por si só, a diversidade encontrada em tantas juventudes.

Ser revolucionário, inquieto, buscar o movimento é inerente à juventude! Não pertence à um modelo de comportamento adotado em uma época ou por um grupo específico de jovens.

A juventude hoje não é menos revolucionária, nem tampouco alienada, como muitos falam quando a analisam criticamente. A juventude é diversidade, movimento, mas parece que para entendê-la e incluí-la, precisamos limitá-la a definições que não dizem mais nada!

Existem várias pesquisas no território nacional e na América latina que nos dizem que os jovens das diferentes juventudes, desejam se engajar em movimentos e ações para o benefício comum a todos: Ações de cunho ecológico, que salvem o planeta, ações comunitárias para o benefício de todos... Participação é sua bandeira de luta! Os jovens buscam identificar juntos os principais problemas e encontrar pontos de convergência.

A juventude tem o que falar e se expressa de várias formas diferentes: através do movimento hip hop: grafitagem, rima, rap e outras formas de expressam artística. Através da participação em diferentes partidos políticos, grupos religiosos, movimento LGBT, grupos feministas, movimento negro, grupos étnicos, jovens "beneficiários de programas sociais" e jovens integrantes de várias redes virtuais - estas, comumente rejeitadas pela nossa forma de entender o termo "participação".

Os jovens participam! Participam o tempo todo e têm muito o que nos mostrar.

Evidentemente, precisamos estar juntos jovens e não jovens, pois, conhecemos bem a história, os passos dados, os obstáculos vencidos e os por vencer.
Um diálogo profundo entre as diferentes gerações é que tornará possível a construção de uma política efetiva para juventude.

Dessa forma, a partir de uma política pensada conjuntamente, com a participação dos jovens e dos não jovens, é que poderemos estar quebrando os mitos existentes que sustentam distorções como as que vemos com os "zinhos, netos e juniors" estampando a nossa cidade e o nosso estado com suas poses e fotos.

domingo, 25 de julho de 2010

Operação Combinada

Tive tanta experiência acumulada nesses últimos 26 dias que, minha cabeça, condicionada a fazer o tempo todo o “apurado” dos fatos, está lotada de conclusões que preciso colocar pra fora. Por isso escrevo.

Essas conclusões, na verdade não concluem muita coisa, foram remendadas, mudadas, alteradas a cada avalanche de fatos e sentimentos que me invadiram no dia-dia desse meu pós-operatório.
Ao invés de uma recuperação, esse pós- cirúrgico mais parece um aprofundamento no desafio, uma entrada e não saída do lugar de quem sofreu os traumas próprios de uma longa cirurgia. Uma cirurgia combinada – como disseram os médicos.

Esse talvez seja o primeiro ponto da minha necessidade de vazar, esvaziar, extravasar e organizar minhas conclusões. Pra quê exatamente, não sei.

Confundi frequentemente a expressão usada pelos médicos de “cirurgia combinada” com “cirurgia casada” ou “cirurgia integrada”. Usava o tempo todo uma das duas últimas expressões quando na verdade estava querendo me referir à expressão médica para o caso: cirurgia combinada.

De qualquer forma, o que danado é combinar se não a tentativa de casar possibilidades, fatos, situações, integrar as coisas e as ações? O que danado é combinar??? O que é fazer uma cirurgia combinada na perspectiva dos médicos? São apenas duas cirurgias prestes a acontecer em um só corpo? Que espécie de combinação eles fazem pra isso?

Aí pulo para minha vivência de educadora.

Como educadora, trabalho há muito tempo pela possibilidade real de planejarmos e agirmos de forma integrada: todos os educadores das diferentes áreas de conhecimento a serviço do desenvolvimento daquela turma, daquela pessoa. Integrando conhecimentos, possibilidades, casando opiniões, combinando estratégias. Acho isso tão digno! Dar o nosso melhor para aqueles a quem servimos!! Acho de uma beleza tão grande nos colocar a serviço, juntos, para realizarmos nosso propósito!

Sim, o propósito de ser educador é ensinar, ajudar o educando a aprender o que deseja, o que precisa, o que faz sentido em sua caminhada. Quando nos propomos a isso, assumimos o compromisso e ao assumirmos o compromisso nos tornamos co-responsáveis por todo o processo – esse passa a ser o nosso dever, a nossa responsabilidade.
Enfim, o que um educador deve fazer é isso: trabalhar de forma integrada com seus parceiros nas diferentes áreas de conhecimento para melhor servir ao aprendizado da pessoa e/ou do grupo disposto a aprender. Facilitar cada vez mais a vida imediata dessas pessoas a partir do desenvolvimento de conceitos, práticas, habilidades e competências necessárias a sua vida pessoal e social, aqui e agora.

Sempre fiz uma crítica muito pesada ao educador de uma maneira geral nesse sentido achando os passos necessários muito lentos para a urgência do que emerge da vida para ser vivido, compreendido, refeito. Hoje vejo o quanto caminhamos... Já conquistamos muito nesta direção. Na direção de construir uma prática mais humanizada onde a pessoa e o grupo sejam respeitados em seu processo de ensino e aprendizagem e nas necessidades e possibilidades de seu contexto social e histórico; na direção de contribuir nos espaços de aprendizagem para que se articule melhor a dinâmica da vida, para a felicidade e a paz como um direito de todos – porque não?

Escrevo essas palavras para trazer um pouco da confusão que fiz entre “cirurgia combinada” e os termos - “casada” ou “integrada”.
Compreendo que para lidar com as pessoas precisamos articular e integrar o máximo de conhecimentos sobre ela com o respeito e o amor necessários ao que vamos conjuntamente realizar. Estou tão impregnada dessa verdade que a expressão “combinada” usada para cirurgia que iria me submeter me levou, naquele momento, ao lugar de entrega e confiança.
Mas,deveria ter sido mais ativa nesse processo para entendê-lo melhor. Assumo.

Voltando a relação que vinha construindo neste texto entre educadores e médicos, vejo que hoje nós educadores descobrimos um caminho melhor, mais concreto e mais eficiente para integrar, casar, combinar ações. Por mais difícil que seja para nós essa construção, como já disse, avançamos muito! Os médicos, se for tomar como base minha experiência e outros relatos que ouvi e vi no hospital, diria que estão ainda muito distantes de conhecer verdadeiramente esses conceitos, ou pelo menos contextualiza-los com o homem e sua humanidade.

Como o educador, o médico trabalha para o ser humano. Será que podemos dizer que um trabalha para alma e o outro para o físico? Acho que não. Olhando friamente e superficialmente pode até ser, mas sabemos que o ser humano É a partir da articulação e desenvolvimento dessas dimensões. Somos corpo e alma. E a saúde, de maneira bem ampla, está na articulação harmoniosa entre estes dois aspectos.
Existe uma crença de massa de que o médico é um profissional mais importante que o professor por lidar com a vida das pessoas. É uma crença de fato. Mesmo que o status social atribuído a esses dois profissionais insista em dizer o contrário, ambos temos importância na mesma medida na vida das pessoas – às vezes de forma mais objetiva imediata, às vezes mais a longo prazo, mas igualmente essencial e importante.
Na verdade, nosso trabalho deveria ser mais combinado, casado e integrado do que imaginamos ser possível, pois trabalhamos para o bem do indivíduo e do coletivo formado pelos indivíduos, estamos a serviço da vida tendo o SER HUMANO como foco do nosso trabalho. Mas, essa é uma discussão muito ampla e filosófica que não tenho condição aprofundada de fazê-la e nem a intenção agora.

Bom, uma das conclusões remendadas que formei e que, como eu, ainda anda meio lerda, meio sem forma, meio torta, é que aseguinte: O médico, assim como o educador, precisa aprender sobre a importância de trabalhar de forma integrada, verdadeiramente combinada.

Puxa! Se nós, eu e você, somos médicos e vamos operar uma mesma pessoa, mesmo que cada um dentro de sua especialidade, devemos, de fato, combinar sobre tudo isso: organizar a metodologia usada e os recursos que temos para atingir nosso objetivo. Isso é um “planejamento integrado”! A mesma experiência necessária ao educador deve ser vivida pelo médico que se propõe a tal desafio!
Isso exige de nós tempo para encontros, conversas, ajustes... Temos nas mãos a vida de uma pessoa. Mesmo que, pelos calos adquiridos na prática da profissão venhamos a desconsiderar a humanidade subjetiva desta pessoa, devemos considerar objetivamente que esse sistema é integrado por si só e que, portanto, exige de nós algo além do conhecimento específico de cada área.
O sistema é vivo, e como vivo é dinâmico, e como dinâmico, cheio de possibilidades. Devemos conhecer e dominar o máximo possível dessas possibilidades para que o inesperado se expresse de forma positiva. Para isso, a função de educadora me ensina que é preciso conversar a respeito, discutir, entregar-se ao fato de que existe um trabalho a se fazer junto e exige tempo e dedicação da nossa parte. Não existe outro caminho se quisermos fazer bem feito e com o devido respeito a nossa missão de terapeuta e cuidador – é isso que é um médico, é isso que é um educador.

O ritmo de se fazer duas três, quatro cirurgias por dia, está atendendo a outro senhor que não o ser humano, a vida.
Talvez seja preciso parar. Acho importante se conversar longamente sobre aquele projeto (por mais experiência que se tenha!). É necessário orientar bem o paciente, pois ele pode não estar em condição, inicialmente, de orientar a si próprio. Uma cirurgia tira a pessoa de seu lugar de conforto. O medo e a fragilidade aparecem. Talvez seja preciso ir além da informação sobre o número de dias de resguardo e aprofundar os detalhes desses primeiros dias. Deve-se considerar que além das partes do corpo sobre a qual se tornou especialista, existe uma vinculação profunda entre as demais partes e uma pode comprometer a outra caso essa articulação não seja mantida, estimulada. Deve-se orientar o paciente quanto a respiração e circulação. Água, sangue, oxigênio, são fatores determinante em um pós-operatório.
Enfim, para além dos cuidados que dependem da prescrição médica, existem cuidados que precisam ser orientados, lembrados para serem feitos pela própria pessoa em sua casa.
Vejo a importância da presença médica, da prontidão quando vai fazer algo tão sério como uma cirurgia, como a importância de um educador num projeto pedagógico: Deve-se estar comprometido com ele do começo ao fim. Não se deve abrir mão da tarefa e da oportunidade de caminhar com aquele aluno/paciente, cuidando para que tudo corra bem, de forma limpa e clara, estando assim, pronto para agir diante do imprevisto.

Senti falta dessa articulação entre os profissionais, no antes, no durante (um abriu minha barriga e o outro fechou – “cada um no seu quadrado”) e no depois – quando tive complicações de toda natureza e apenas momentos relâmpagos com os envolvidos para dizerem que fizesse isso ou aquilo - geralmente uma determinação contrariando a outra: bota a cinta, tira a cinta, anda, não anda, toma suco verde pra anemia, não come nada verde pra afinar o sangue...
Assim passei por fecaloma, pneumonia, água na pleura e trombose.
Senti-me perdida, tive muito medo de morrer, pois me desconheci, não sabia mais que corpo minha alma ocupava, era uma estranha pra mim mesma. Aonde aquilo ia parar? Perdi o controle. Senti medo a ponto de esquecer meus poderes pessoais e a força de minhas escolhas - como ficar viva e ficar bem.
Uma grande ignorância a respeito de tudo. Poderia ter me ajudado melhor se soubesse de alguns cuidados simples.

É necessária uma reflexão sobre essa prática de operar, operar, operar, sem dar tempo para cuidar dos operados.

Trago para mim essas reflexões e vejo minha parte nisso tudo: Minha cegueira, minha desatenção e a falta de amor e cuidado para comigo em momentos anteriores contribuíram para o quadro pintado nesses dias em minha vida. Não foram apenas os médicos. Eu também estive distante de mim mesma o suficiente para não ouvir a minha voz pedindo ajuda.
A família e os amigos precisaram parar as suas vidas para me trazerem ao meu lugar de origem - minha casa interna.

Estou aqui. Tentando aprender a parar também e operar a meu favor para que os frutos da minha entrega à vida sejam reais. Combinar estratégias, casar idéias e integrar as partes de mim que espalhei por aí sem parar, sem sentir, sem pensar.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Visão da Carne e do Espírito

Com muito mais frequência sou cega, não consigo ter visão, ou tenho uma visão em um tempo diferenciado do fato - aí acho que é compreensão, pois só depois do impacto é que começo lentamente a "ver".Chamo iso de compreender.

Interessante que depois de uma vida inteira míope, ano passado, resolvi fazer uma cirurgia. Tinha muita vontade de poder dançar até a morte sem os óculos embaçarem ou sem ficarem escorregando do meu rosto. Parecia que me impediam de voar. Queria assistir a um dvd deitada, não podia, pois a lente multifocal exigia de mim movimentos e posturas adequadas.

Achei que depois da cirurgia iria criar asas... Mas, lembro que lá dentro de mim havia um outro desejo: o desejo de ver coisas que não se vêem com os olhos da carne. Queria me ver melhor, ver melhor as pessoas e situações, conhecer melhor a vida. Queria ser uma pessoa de visão ampla, apurada! Meu Deus que coisa mais infantil!
Queria, como uma criança, fazer o menor caminho, o caminho mais curto e mais fácil para que meu desejo fosse realizado já!Queria ter o benefício sem pagar o preço!

Evidentemente, não atingi meu objetivo.
Na verdade, hoje ando sem óculos (e danço sem óculos!)graças a Deus, mas minha visão não é limpa, nem fisicamente falando: vejo, vez por outra, umas minhoquinhas boiando nas bordas do olhar em função do descolamento do vítreo que adquiri algum tempo depois da cirurgia e tenho a visão do olho esquerdo ligeiramente embaçada como se tivesse vendo o tempo todo a fumaça de uma fogueirinha de São João. Não sou mais dependente dos óculos - é um fato! Uso-os apenas para ler, assistir um filme mais longo, fazer sobrancelhas, fazer as pernas... Ou seja, não sou nenhuma gaivota, mas levanto um tantinho do chão.

Os olhos da carne mais ou menos "curados", embora o oftalmo diga que uma vez míope sempre míope -, Os olhos do espírito nem se abalaram! Estão seguindo o fluxo normal de seu desenvolvimento, ou seja, caem as vendas a partir de minhas vivências e da forma como me entrego a essas vivências.
Penso as vezes que enxergo um pouco mais, as vezes tenho certeza que estou no mesmo ponto da visão onde "Maya" - a ilusão, aparece travestida de real, de verdade.

Tem um mantra que aprendi a partir de uma das palestras do Pathwork e que repito diariamente: TUDO O QUE TENHO E SOU QUERO DAR A VIDA!
Espero e peço ajuda para que possa, cada vez mais, do fundo do meu coração dar passagem a energia e a força dessas palavras dentro de mim para que se transformem numa única verdade. Sei que aí terei a VISÃO que tanto busco.

domingo, 11 de julho de 2010

Um pouco de movimento na imobilidade

Pois não é que as coisas mudaram a forma em uma velocidade tremenda mesmo eu parada?
A cirurgia complicou no pós operatório e tive de voltar ao hospital.
Cheguei lá na UNIMED orientada pelo médico cirurgião, às 11h da manhã da quarta-feira, sete dias após a cirurgia.
Fui atendida pelo clínico geral plantonista - que pode ser chamado de balconista também se quiser – e pela breve passada do cirurgião lá - que pode ser chamado de gaivota: um pássaro de plumagem branca que se aproxima rapidamente de sua presa , mergulhando velozmente o bico na água e voando para um outro lugar bem longe...
Bom, na urgência desse hospital fiquei das 11h30min da manhã, até, aproximadamente, meia noite, numa maca, numa daquelas salas que chamam estranhamente de atendimento de EMERGÊNCIA.
Em um dado momento desse longo dia recebi um soro com remédio pra dor e a promessa de ser internada e atendida com a medicação prescrita, pois a radiografia que fiz ao chegar lá indicava água na pleura e pneumonia.
Foram horas de fome, dor e abandono depois disso. Fato interrompido na madrugada graças ao movimento promovido por familiares e amigas (o exército de Neli).
Finalmente, fiz exames mais precisos e subi para uma quarto de enfermaria, que é o que meu plano de saúde(?) garante, às 01:30 da manhã para começar o enfrentamento à tal inflamação na pleura e à pneumonia.
Medo e dor diante das mudanças ocorridas.
Muitas dores, muita tristeza, muito medo, remédios, nebulizações radiografias, tomografia... Muitas observações, percepções... Muitos anjos em forma de marido, filha, irmãos, cunhada, amigas, maqueiros e técnicos de enfermagem.
Pedi muitas vezes a Deus, ao Universo, antes mesmo da cirurgia, que, juntamente com meu útero, fosse possível me curar de algumas distorções e negatividades que carrego comigo.
Eita! Pois não é que junto com a pneumonia e as outras crecas que surgiram depois vieram à tona algumas das distorções e negatividades que pedi pra transformar??!!!! Danou-se!
As mudanças físicas são dolorosas complicadas e cheias de surpresas (um tanto desagradáveis, no caso), mas encarar, nessas condições a auto-imagem e as crenças é muito mais punk!!!!
Ver a manifestação de o orgulho enfrentar a necessidade irreversível de ser humilde e abrir espaço para a ajuda de outros, ver a exigência da perfeição se desdobrar em acolher o imperfeito, ver o controle sobre todos e sobre tudo simplesmente ficar pairando no ar à serviço da sorte e de poderes maiores que os meus e principalmente ver a minha imensa dificuldade de confiar e de me entregar nas mãos de Deus.
Nestes momentos pude também dar oportunidade a outras pessoas de expressarem aspectos seus livres da minha compulsão de fazer tudo por elas – como Nanego e Flora que estão assumindo tão perfeitamente a função de cuidadores e donos da casa...
Tenho aprendido muito com essa experiência e sinto certa vergonha das orações que fiz em meio a confusão, à dor e ao medo, onde o que imperava era a auto piedade e o pedido de socorro.
Sempre olhamos para as nossas crises e não prestamos atenção ao presente que elas trazem que são esses aprendizados...
Estou em processo de cura, em tratamento de tudo que pode vir à tona. Reafirmo o desejo de aprender e de ser alguém melhor a partir de tudo isso! Quero me sintonizar com a alegria, a saúde, a gratidão e a abundancia universal que está disponível para cada um de nós e seguir em frente no caminho da luz, de volta pra casa!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Puxa o freio de mão!

Fiz uma cirurgia dia 30 agora.
Depois da fogueira de São João e da embriaguês do forró o mergulho em um outro lugar.
Vínhamos, eu e todas as minhas consciências (ou inconsciências)em uma velocidade tão grande que quando a anestesia me levou para a terra de ninguém o freio-de-mão foi puxado pela mão do tempo, da necessidade, da hora e estou aqui parada, parada!Derrapei, capotei...
Uma cicatriz enorme na barriga que esconde as outras lá dentro do corpo, ocupando o espaço físico de onde antes ficavam útero e trompas.
Fico tentando imaginar meu corpo por dentro. Meu útero sempre foi minha sacola, uma espécie de depósito para todas as coisas, não só o lugar onde cresceram ou não os fetos onde gerei meus filhos, mas onde joguei meus pensamentos, sentimentos, minhas reações emocionais. O lugar onde me escondia da vida, me retirava, minha caverna.
Com o freio-de-mão engatado estou sem movimento e encarando esse vazio, respirando na dor física e vendo um jeito de manter a energia de proteção desse lugar.
Aqui, na granja, parada, cada folha tem formas, cores e detalhes próprios.
Penso em tudo que está correndo lá fora, as vezes com preocupação, por tanto que tenho por fazer, que deveria estar fazendo...E vejo que num mesmo momento, numa mesma vida, existem dimensões tão diferentes.
Este é o meu aqui e agora. E peço ajuda a Deus para que possa tirar o melhor proveito dessa experiência.
É tudo tão lindo aqui...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

continuação 8

Imagino ser necessário uma reflexão de onde possam surgir ações que contribuam com a tarefa do educador, clareiem as áreas escuras de sua consciência e favoreçam a elevação da qualidade do ensino desenvolvido em nossas escolas. Perceber as inter-relações existentes entre o educador, sua vida pessoal, sua tarefa, seus educandos, sua comunidade, os conteúdos escolares, sua escola. Enfim, a dinâmica presente na vida relacionada ao ato educativo pode ser de grande valia nesse processo.
Desenvolver um olhar mais consciente pode nos dar a diferenciação necessária para agirmos de forma madura, comprometida, feliz e viva na construção de uma sociedade que tem como único caminho à evolução.
Percebo que o processo de ensino aprendizagem, na busca por uma melhor qualidade na educação, não consegue ultrapassar os limites oferecidos pelo conhecimento dos conteúdos e atingir o universo de uma educação transformadora .
Como facilitador e como ator integrante do universo escolar, o educador (não só ele, mas todos os envolvidos com o fazer educativo) tem se preparado em busca da sua qualificação através de programas de formação e atualização pedagógica, oferecidas por organismos oficiais ou não: encontros, seminários, fóruns, simpósios, treinamentos. No entanto, a educação, o educador e a escola nunca foram vistos com tanto descaso. Os educadores são mal pagos e estão distantes do real comprometimento com o ato de educar. São tantas possibilidades teóricas, tantos paradigmas que apontam para fora, para longe, para o passado ou para o futuro, nunca para o presente ou para dentro de si. O educador não encontra respaldo, apoio, afinidade em outros “personagens” envolvidos com a causa, como diretores, coordenadores, supervisores, secretários de educação, dirigentes políticos - pessoas também perdidas entre as “novas” propostas e as “velhas” formas burocráticas de se formalizar a educação. Fica difícil dar o salto necessário para a consolidação desses “encontros com o saber” em “hábitos", ou seja, transformar as teorias em ações, tanto no âmbito individual como social. Salto que parece necessitar de uma consciência renovada, de exercitium, o exercício de um homem em movimento (Karlfried Graf Dürdkheim –1995). Algo que desperte a intenção consciente de mudança, associada ao compromisso e à coragem de estar presente, atento, observador de si mesmo, das relações internas, relações com o outro e com o meio social no qual se vive.
Sandra Celano diz que “Há necessidade de dimensionar o novo a partir de si mesmo”. O que implica dizer que devemos considerar que para vivermos um novo momento na educação não precisamos necessariamente estar sempre recomeçando de uma “grande e nova” descoberta e descartando uma idéia “antiga e ultrapassada”. Devemos nos perceber como parte de um movimento orgânico, infinito, que integra o interno e o externo, o homem e a sua história o indivíduo e o grupo, a escola e a comunidade e que “começa” a partir de nós mesmos. Não quero com isso centralizar toda a questão no indivíduo, mas seguramente concordar que somos como indivíduo, o nosso ponto de partida.
De acordo com Norbert Elias , a sociedade em sua moldagem geral, reflete a historicidade humana, sendo reflexo de formas particulares de auto-regulação da pessoa em relação a outras pessoas e coisas e da malha tecida pela interdependência dessas relações. Uma via de mão dupla. A formação social está vinculada à formação interior do indivíduo, que por sua vez liga-se à sua rede de relações, somos ao mesmo tempo parte e todo. Somos “vetores que dirigem continuamente valências dos mais diferentes tipos para outras pessoas e coisas, valências estas que se saturam temporariamente e sempre voltam a ficar insaturadas” (Elias: 1994: 37). Podemos perceber essa rede e seu movimento. A nossa participação - Estejamos nós conscientes ou não dela, é real e reflete a qualidade com a qual nos envolvemos.
Não é exatamente a falta de teorias, de conteúdos, de didáticas e pedagogias que vemos quando olhamos de frente a qualidade da nossa educação. As teorias, os conteúdos, estão abarrotando as gavetas do professor e servem como recordação dos encontros que não foram de todo perdidos, pois lá conhecemos pessoas, nos divertimos, sorrimos, ficamos felizes. Encontrar pessoas, sorrir, ser feliz deve ser um propósito vivo da prática educativa. Podemos aproveitar em 100% o seu valor se o integrarmos ao propósito de estar ali, vivendo a educação. Com interesse de estar recebendo e doando informações relevantes ao progresso firme das relações pedagógicas. Atentos aos motivos que levam nossas escolas aos elevados índices de abandono e repetências. Questionando a forma como estamos exercendo o nosso papel.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Útero

Canto de possibilidades
De esperas constantes
Paciência de monge
Caminhos de sangue

Quem passou por aqui?
Quem deixou de passar?
Quem foi expulso por mim?
Quem não pôde ficar?

Imã de minha mão
Imã do meu olhar
Meu reservatório
Meu primeiro lugar

Neste último momento
Nesta última missão
Te coloco por dentro de minha emoção
E te faço um pedido:
Que carregue contigo
Todo o meu NÃO

O não saber estar
O não saber perdoar
O não saber amar
O não saber falar

O não estar presente
O amor próprio ausente
A auto piedade
E a vontade de chorar

quarta-feira, 5 de maio de 2010

continuação 7

Voltei a fazer parte ativamente do mundo. Dessa vez mais atenta. Na verdade com “um pé atrás”, duvidando um pouco de tudo, cheia de receios. Creio que fruto de um aprendizado que me fez depois diferenciar “alhos de bugalhos”.
Encontrei um novo companheiro, com quem fiz um lindo casamento; concluí meu curso universitário, tive mais um filho, o João; voltei a estudar sobre educação, formação de professores, práticas pedagógicas e políticas públicas para educação e a trabalhar nesse sentido.

DESAFIOS no CAMINHO da EDUCAÇÃO

Se as coisas são inatingíveis...Ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que triste os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!
Mário Quintana

.
Desenvolvi, com a orientação de meu pai e a companhia de outras educadoras, alguns projetos relacionados ao papel da escola no desenvolvimento sustentável de Municípios do interior do Estado, através de suas prefeituras. São Municípios em situação de desertificação como no caso do Cariri Paraibano, mas que têm potencialidades que podem gerar o sustento das pessoas permitindo que fiquem no seu lugar vivendo condignamente, cresçam e ajudem o seu lugar a crescer, sem precisar evadir, emigrar para os famosos bolsões de miséria da capital, por desespero.
Trabalhamos com a idéia de que a qualidade de vida das pessoas pode estar nas mãos delas e não só nos programas de governos ou de outras organizações. No entanto é preciso que tenham consciência disso e escolham tomar posse desse poder de crescer e transformar a sua vida e a vida da comunidade.
Associamos projetos que ressaltassem as potencialidades regionais às ações de natureza pedagógica nas escolas: belíssimas paisagens características do lugar, a palma como alimento humano , o leite e a carne do caprino , a arte e cultura produzida na região, etc.
Envolvemos nas aulas, caminhadas por lugares que compõem a história esquecida da região, buscando resgatar sua identidade cultural, social e geográfica. Questionamos e estimulamos hábitos alimentares que foram trocados por outros: as frutas do lugar por frutas trazidas de fora, o leite da cabra pelo da vaca (animal de dificílimo manejo na região pelas características de clima e vegetação), etc. Valorizar o que têm plantado no terreiro de casa, valorizar as coisas que brotam do chão. Cuidar do manejo e criação de animais, da relação do curral com a casa. Cuidar do corpo, do olhar para o corpo, livrando-se, na medida do possível, das crenças que provocam o distanciamento que temos de nós mesmos.
Podemos ver o resultado e a diferença desse trabalho desenvolvido no interior para o trabalho feito com professores de regiões mais próximas e mesmo dentro da capital aonde o conhecimento “formal” chega mais facilmente. Não classificando como bom ou ruim certo ou errado, mas observando que onde falta o conhecimento mais formal sobram crenças arraigadas em conceitos muitas vezes equivocados, e onde as crenças ligadas aos impedimentos religiosos são mais brandas há uma leitura simplista e reducionista do conhecimento científico.
Percebemos que o desafio é outro e vai muito além da desinformação de conceitos científicos ou religiosos. Passa pelo desconhecimento a respeito de si próprio. E isso gera o descrédito, a apatia, o desencanto, o vazio contra o qual lutamos cegamente. Algo está quebrado e vemos partes trocadas sendo coladas, emendadas.
Os educadores e a Educação como um todo estão precisando de cuidados e atenção. Há ainda muitos professores leigos escolas afora. Leigos de um jeito, leigos de outro, sem saber o que de fato estão fazendo. Buscando, trabalhando, se empenhando, porém com um grande nível de insatisfação.
A partir dessas experiências acreditamos que os entraves vividos hoje na educação, na relação ensino-aprendizagem, têm alcance mais amplo e mais profundo do que podemos perceber quando olhamos para a deficiência na formação acadêmica do educador, para falta de atualização pedagógica adequada, os baixos salários, a falta do material didático necessário; enfim, para as variáveis existentes nas relações intrínsecas ao processo educativo. Esses fatos contribuem para agravar as dificuldades enfrentadas pelos educadores, supervisores e diretores na prática de suas atividades; mas não são eles os únicos responsáveis pelo grau de insatisfação com a educação.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Eu sou assim...

Um sim e um não
Um carro na contramão
um berço, um corrimão
alguém querendo atenção

Eu sou um traço
Um bagaço
um troço solto no espaço
um prego feito de aço

Eu sou um copo de vinho
bebido fora de hora
quebrando todas as rimas
jogando tudo fora

Eu sou o que sinto agora!

Continuação 6

Um dia eu morri. Lutei para manter meus olhos abertos, acreditando que assim sustentaria o coração e o cérebro funcionando. Mantive, mas sei que ali vivi uma morte. Tive uma espécie de convulsão por algumas horas, com visões e sensações muito fortes. Cheguei a olhar nos olhos do homem que me socorria e ver e ouvir a voz de Deus que falava comigo. Senti a consistência do meu corpo de forma diferente; parecia uma espuma densa e macia ao mesmo tempo. Vi-me fora dele. Fui levada a um hospital onde fiquei por uns dias, para avaliação e cuidados médicos. Quando voltei para casa sentia uma mistura de medo e coragem. Medo do que estava acontecendo, do desconhecido. E coragem de viver comigo mesmo aquele momento. Os véus que encobriam o mundo aos poucos caíam à minha frente, me assustando. Em algum ponto eu tinha a certeza de que não tinha volta. Um sentimento de solidão muito forte. Porém, lá nesse lugar encontrei uma força silenciosa, uma fé em um Deus que nem era da igreja católico-espírita do meu pai nem da igreja protestante da minha mãe, mas alguém que estava o tempo todo dentro de mim, amorosamente comigo, torcendo para que eu escolhesse pela vida.
Foi uma sustentação difícil, lenta, passo a passo, dia-a-dia, certa que se alguém soubesse do que se passava dentro de mim certamente acharia que estava enlouquecendo. De fato enxerguei a tênue linha que separa a loucura da sanidade, avistei a morte, a loucura e o infinito tão de perto que não sei como consegui manter-me viva e lúcida tentando sustentar o que às vezes parecia insustentável .
Meu ex-companheiro me levava para ver o mar, caminhar com os pés na areia da praia e me dizia: respire . Foram momentos difíceis, mas com o tempo fui fixando o olhar, me alimentando melhor, ficando de pé e vencendo o meu medo e fazendo prevalecer a coragem de abrir espaço para tudo que estava me acontecendo. Só depois de alguns anos pude finalmente pedir ajuda e nesse momento encontrei o Pathwork - um caminho de auto desenvolvimento, um caminho terapêutico espiritual. Comecei então a trilhar esse novo caminho que deu sentido ao que vivi, deu uma outra qualidade a minha vida, e que mais tarde me levou até à DEP - Escola Dinâmica Energética do psiquismo em Salvador, Bahia.

segunda-feira, 29 de março de 2010

poder pessoal

A busca do poder pessoal nos leva à diferentes e profundas experiências. Hoje, caminhando por estes caminhos me deparei com o inesperado e mergulhei profundamente na dor, mas também rapidamente saí de um lugar que imaginava ser sem volta...

quinta-feira, 25 de março de 2010

continuação 5

Flora foi desde o princípio uma presença muito forte e muito marcante para mim. Fez-me ver o valor de nossas escolhas, a importância e a responsabilidade de renová-las a cada dia. Amamentei-a por dois anos e seis meses, contava histórias e cantava todas as noites para ela dormir. Porém em muitos momentos senti-me como a mulher-foca do livro Mulheres que Correm com os Lobos , que de repente para de dançar e vê que sua pele havia sido roubada. A presença de Flora me fez dar um outro tipo de mergulho em busca da verdade e, como no conto da Mulher-foca, foi ela (o filho do conto), mais tarde, quem mostrou o caminho até o esconderijo onde estava a minha pele roubada.
Mas, voltando a escola...Vivemos, junto com as outras crianças, pais e colaboradores, essa experiência da Aldeia Cresça de janeiro 1986 a dezembro de 1992, quando da grande expansão que possibilitou colocar em prática um sonho de tornar vivo as coisas que acreditávamos, passei para a grande contração que me fez olhar para todos e dizer: Não posso continuar não me sinto mais inteira para isso !
Anunciei o fim. Esperei que todos se organizassem e finalmente fechei a escola-casa. Acabamos o casamento. Larguei mais uma vez o curso na universidade... Fui aos poucos entrando tão profundamente nesse mergulho que ficou difícil estar de pé. Fiz teatro, estudei práticas alternativas, biodança, busquei outros caminhos... Mas o que realmente buscava estava em algum lugar dentro (se é que podemos falar assim), bem dentro de mim. Vivi um período de uma abertura diferente, como se o mundo estivesse sobre a minha pele, sentia tudo que estava no mundo, algo indescritível, e então, tive uma experiência que significou uma mudança profunda em minha vida.

terça-feira, 23 de março de 2010

jovens x jovens

É motivo de indignação o que nos remete esse fato ocorrido com os jovens em Manaíra. Para mim é representativo de tudo que estamos vivendo no ProJovem desde o início do ano passado, onde percebemos claramente a exterminação que vêm sofrendo a juventude debaixo de nossos olhos. Ao mesmo tempo, nos mostra a nossa falta de noção sobre o significado da violência.

Achamos que violência é o que nos acontece, mas nunca imaginamos ou percebemos que o que fazemos acontecer pode ser extremamente violento também! Pior! Achamos que os seres humanos que estão na seção dos "violentos" - porque, diga-se de passagem, nós, da seção dos não-violentos, os colocamos lá! - não merecem outra coisa a não ser o sofrimento, o castigo, a morte. Pagar o preço por nos assombrarem, por nos tirarem do nosso lugar de "paz", de segurança.

A mesma atitude vinda daqui pra lá, isso não significa violência?! Como não?

Somos muitas vezes violentos e ao que parece, muitas vezes também débeis, cegos, insensíveis! Atributos que acabam por especializar a nossa forma de exercer a violência no dia-a-dia, tornando-a discreta, imperceptível. Muitas vezes envolvida em uma máscara de amor ao próximo, de compaixão. Não conseguimos enxergar além do que nos interessa, além do nosso mundinho formatado em clichês bem trabalhados nas novelas de televisão. Recheados de valores caducos e distorcidos que começam por desvirtuar o amor, a essência do amor. Tornar o amor algo mutilado, diminuído, mesquinho.

Temos a violência a flor da pele!!! Na ponta dos dedos, na ponta da língua, ao alcance da mão e na força do olhar! Precisamos nos dar conta disso! Precisamos olhar para nossa capacidade de sermos violentos e entrar em contato com o nosso poder essencial e genuíno de fazermos escolhas. Precisamos escolher, nas pequenas coisas ao nosso alcance, a não violência! Agora! NÃO TEMOS MAIS TEMPO PARA DEVANEIOS!

Não quero, inverter o jogo e continuar a brincadeira das extremidades - quem tá na platéia sobe pro palco ou vice-versa. Não quero justificar a violência cometida por estes jovens ou por tantos outros que comumente aparecem na mídia como "os violentos", os causadores da violência. Não quero achar um lugar de acomodação e de proteção para eles, pois, além de não ser detentora desse poder, creio que isso seria uma violência também - acredito que arcar com as consequências dos seus atos é exercer a humanidade que ainda resta e ter a chance de dar a volta na vida a partir de uma ampliação da consciência adquirida com o exercício da responsabilidade.É a chance de ser humano! - No entanto, é fácil, se quisermos, percebermos que o universo dessas pessoas taxadas de violentas ou perigosas é na verdade gerado em um berço de violências explícitas e implícitas, alimentadas constantemente por eles mesmos e "pelos outros", para não dizer "por nós", pela nossa falta de compreensão e/ou interesse a respeito de quem são e de quem somos de fato. Nosso desinteresse nos cega e transforma essas pessoas em invisíveis!

Agora vamos pensar: Quem de nós não quer ser visto, percebido, notado? O nosso olhar estrutura o outro e somos estruturados pelos olhares a nossa volta e em nossa direção - isso nos forma, isso nos identifica, nos torna quem somos.
E essas pessoas sem olhar, ou com olhares de espanto, medo e preconceito em sua direção? Como pedem se ver, se perceber, se sentir? Como podem ser?

Esses fatos certamente não justificam a violência cometida, mas mostram que a capacidade de tolerância dessas pessoas às adiversidades e aos desafios impostos pela vida é muito maior do que a de quem está do outro lado - os cidadãos e cidadãs de bem. Com tudo que passam na vida, "a vida ainda pulsa", pois, dêem um espaço para esses(as) jovens e vejam do que são capazes! Minha experiência mostra que têm o desejo de mudança, o desejo de uma vida de paz também e estão abertos ao esforço necessário para isso.

A violência é movida pelo medo.

O medo doentio ou nos congela ou nos impulsiona de forma desordenada e sem consciência em direção ao inimigo.
Aqueles jovens, como tantos outros, os de dentro de casa e os de fora de casa, estavam a serviço da mesma dor, a serviço do mesmo senhor.

Hoje, sou eu que me sinto quase que congelada pela dor e pelo medo de encarar essa realidade tão cruel! Tenho um profundo amor por esses rostos sem face desses jovens das comunidades das periferias, dos guetos, dos sem canto, sem espaço, sem nome... Pelos que chegam e pelos que não chegam nas salas de aula do ProJovem Urbano. Tenho profundo amor pelos jovens com nome e sobre nome, que com a luta cotidiana de seus pais, de suas famílias e deles próprios vão conquistando aos poucos, um lugar de expressão, assim como meus filhos, meus sobrinhos e amigos...

Diferentes juventudes assombradas pelos mesmos e tantos fantasmas, mobilizadas por sonhos e desejos tão parecidos.

Além de sacudir essas palavras nessa rede acolhedora das (os) amigas (os), abusando do tempo e da paciência de cada uma e de cada um. Tento sair do meu congelamento, enfrentar minha dor e meu medo e dizer que a PAZ se constrói com atitudes firmes, com força, com decisão! Encarando a dificuldade, a limitação, o cansaço e a preguiça! A paz se constrói com estratégias firmes, objetivas e claras - embaladas pelas músicas, pelos mantras, pela serenidade (nunca pela retirada!), mas com os pés firmes no chão, fincados no centro da terra! A paz se constrói com a nossa PRESENÇA, nossa prontidão nos nossos espaços de atuação aqui e agora!